FLORBELA DE ITAMAMBUCA
( São Paulo – Brasil )
Nasceu em 1986, em Ubatuba (SP).
Sonetos publicados no Sonetário Brasileiro, nojornal Litoral virtual – onde atua como revisora - e na revista eletrônica Germina. É uma das editoras do site Escritoras suicidas.
É artesã, neta de tupinambás e, com um pé no catimbó, corre atrás de cuidar direito dos costumes de sua cultura caiçara e criar seus curumins com muito amor e dignidade.
[Em 2010, na época da edição de seus poemas na presente antologia estava preparando o Livro das águas.
TODO COMEÇO É INVOLUNTÁRIO - a poesia brasileira no início do século 21. Org. e Claudio Daniel. São Paulo: Lumme Editor, 2010. 328 p. 15 x 23 cm ISBN 978-8562441-394
Ex. bibl. Antonio Miranda
DE BENZER
zi tristeza tem vez que vem com tudo
fico na minha cerca, no meu mato
bem longe de brincar de gato e rato
mas lá vai coração tomar cascudo
e aqui vou eu catar capim pontudo
macerar pra borbulhar zi imediato
nessa infusão já dá pra dar um trato
na mania de pegar as dor do mundo
e é que não tem dor que não tem jeito
na hora vai deixar de safadeza
quando a folha certinha faz efeito
aprendi a zi benzer na redondeza
o que vem me pedir deixo aí feito
sei um chazinho pra cada tristeza
FOLHAGEM
vixe, tenho que por água nas folha
me sopraram pra mim pra isso que sirvo
achei que a voz vem da tv do sílvio
garrei nesse quintal nem tive escolha
lírio do brejo ergue o pescoço e me olha
meu chão ta que me pede um balde alívio
desbrota flor se esfrega verde vivo
esquece a boca aberta a magnólia
nesse monte de planta é que me fio
pra pensar quando cortam a tv
e a cambada desceu lá pro igapé
aqui onde ta meu pé preto tiziu
forte é o cheira da terra que se abriu
pra vingar folha de reza com fé
PESCARIA
tié também faz ninho com tietê
que tá pensando? u sei do meu lugar
ce fica nem aí pro meu olhar
vem cá, to aqui gostando de você
mais ta frio que nem doce de frapê
gosto de peixe brabo pra pescar
pesque seu mau humor, seu mal estar
não quer bocar dedinho no meu pé?
então vou te contar outro segredo
tem pescador que fura o anzol no dedo
só pra sentir na língua o bom do azedo
pois é, ô da minhoca, então morde a isca
pisca pra ver, nêgo, só pra mim, pisca
bom é quando tem faina que te arrisca
NA FOZ
entrei na foz do rio itamanbuca
franzindo a testa, molhando arrepio
a pela começa a eriçar na nuca
a blusa mostra meus seios com frio
to me sentindo mais doce que açucar
to atraindo emboscada nesse rio
to rimando tudo, valha me o cio
ah... quando esse pacu me cutuca...
... escorre pro rio o que corre pro mar
que traz chegando bem perto uma voz
que ao me ver fica assim quieto, sem ar
eu não vim aqui pra ficar a sós
que traz chegando bem perto uma voz
que ao me ver fica assim quieto, sem ar
eu não vim aqui pra ficar a sós
pra enfiar água em espeto e morenar
moço, vem pro rio desaguar na foz.
ARMADILHA
a correnteza trama ao embaralhar
fios dagua, rodamoinhos, armadilhas
juçara, deus do céu, ô minha filha
ve se ce não me vai escorregar
essa menina agora deu pra andar
pegar firmeza no casco da quilha
achou que pica fumo dá manilha
foi é arranjar curuba para coçar
foi desafiar a mão do rodamoinho
igual jacaúna e igual ibira, é a raça
meus filhos desenvergaram sozinho
a proteção na benção da fumaça
firma pro céu e ajuda no caminho
pois não cai só quem não joga ou trapaça
*
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Página publicada em março de 2022
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